domingo, 8 de janeiro de 2012

Sobre cafajestes e princesas...

Um fio condutor similar une dois filmes aparentemente muito distintos que assisti agora em Dezembro. À procura de leveza em meio aquele estresse comum nos finais de ano, escolhi o brasileiro "Malu de bicicleta" e o americano "Um lugar qualquer" (Somewhere), ambos de 2010. Leveza não foi bem o que encontrei.

Os dois filmes poderiam ser enquadrados naquele tipo de enredo "boy meets girl" tão comum em muitas obras de ficção: menino encontra garota, tem sua vida transformada por ela e blá, blá, blá. E é isso, mas contado de uma forma diferente, o que faz o brilho das duas tramas. "500 dias com ela", filme já citado "ad infinitum" por aqui, no blog, é um exemplo bacana de como a direção faz mágicas com uma  história que já foi contada inúmeras vezes.

Os protagonistas dos dois filmes são homens entre 30 e 40 anos. São aqueles do tipo irresistível, que eu, você, todo mundo já esbarrou um dia por aí. "Irresistível" pela posição social, pelo sex appeal e talvez até pela suposta inacessibilidade. Marcelo Serrado interpreta Luiz, o empresário da noite paulistana que tem a mulher que quer, na hora em que quer, em "Malu de Bicicleta". Stephen Dorff
é o ator bonitão de filmes de ação Johnny Marco que, antes de ter qualquer desejo, já está sendo prontamente atendido. Um recurso usado nos dois filmes é você ter a perspectiva do protagonista que, por onde passa, as mulheres se curvam, oferecem telefone, se jogam, fazem o diabo. Todas elas mulheres lindas, algumas diferentes, exóticas, gostosas e o escambau. Eles se divertem por uma noite e as descartam. Algumas ficam obcecadas. Nos dois filmes há a figura da louca perseguidora e amargurada que, uma vez seduzida, é abandonada pelo homem irresistível.

Aí surge ela, A garota especial. Em "Malu de bicicleta", ela é Malu (Fernanda de Freitas), a garota descolada e analisada que atropela (literalmente) o protagonista Luiz.


Em "Um lugar qualquer", a garota especial é a filha de Johnny Marco, a fofíssima Elle Faning, que faz a Cleo.


Cleo tem onze anos e Malu deve ter seus vinte e poucos. A idade pouco importa. O que fica explícito nos dois filmes é que ambas parecem ser muito mais maduras do que Johnny e Luiz. É no contraste com elas que os dois personagens masculinos apresentados inicialmente como "fodões irresistíveis" começam a parecer patéticos, inseguros e extremamente imaturos. Há algo de "pureza" também nas duas mulheres. Malu, apesar de ser sexy e namoradeira, é equilibrada, doce e cheia de boas intenções. Cleo é uma pré adolescente apresentada sem qualquer malícia, que se dispõe a cuidar do pai.

O desfecho dos dois filmes não deixa de ser romântico (no caso de Malu) e moralista, por assim dizer, em ambos.  A vida de esbórnia, drogas e libertinagem não faz o menor sentido. O que faz sentido é encontrar uma princesa que mudará sua perspectiva de vida (uma namorada, em "Malu", a filha, em "Um lugar qualquer"). Não é à toa, portanto, que ainda existam homens que busquem princesas por aí. E mulheres que sonhem ser o ponto de mudança na vida de conhecidos cafajestes. Marcelo Rubens Paiva e Sofia Coppola merecem minhas humildes reverências.

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